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Acesso aos serviços com PICs

Frente ao aniversário de 10 anos da Política Nacional de Práticas Integrativas, a ser comemorado durante a primeira semana de maio, o Departamento de Atenção Básica convidou a doutora em Saúde Coletiva Islândia Sousa para um bate-papo sobre os avanços e desafios no acesso a serviços de Práticas Integrativas e Complementares. A entrevista aconteceu na última quinta-feira (8) e faz parte de uma das ações da Coordenação de PICs do DAB pela divulgação da “Semana Nacional de PICs”.

1. Como as Práticas estão inseridas na rede de Atenção à Saúde no país?

Realizamos uma pesquisa no Cnes em 2015 e as informações disponíveis no Sistema revelam que há grande concentração das PICs nos municípios das regiões Sul e Sudeste e municípios de maior porte populacional, mais de 100.000 habitantes. Como o Cnes só registra as PIcs definidas na Politica, estamos realizando um inquérito nacional* por telefone. Os dados provenientes do inquérito tem evidenciado que há uma grande diversidade de PICs sendo ofertadas, que estão além das PICs recomendadas na política nacional, e chama atenção que desta oferta a sua maioria é financiada pela gestão municipal. Dos 1.561 municípios que responderam a pesquisa até agora, apenas 355 informaram que tem PICs e a maioria está na região Sudeste.

*Os dados do inquérito serão disponibilizados em breve.

2. Quais os modelos de serviços existentes e as dificuldades de implantação destes modelos?

Existem vários modelos de inserção das PIcs de acordo com cada contexto e as histórias de implantação. Mas, temos evidências que grande parte das experiências em PICs nasceram e nascem do protagonismo dos profissionais e usuários, daí essa diversidade de modelos (tanto em modos de inserção na rede quanto de pico ofertadas). Mas, temos visto que os modelos que mais têm expandido é a inserção na APS via ESF. Recentemente, eu e o Prof. Charles Tesser discutimos em um artigo o potencial de expansão e integração com a APS que este modelo tem, principalmente se integrado ao matriciamento. Nessa modalidade as PICs se integram ao processo de trabalho e podem potencializar o cuidado na APS via ESF. Os modelos especializados tem o seu papel no cuidado em saúde e, porém tem maior dificuldade de expansão, assim como os modelos hospitalares. Esses dois modelos demandam maior número de profissionais, financiamento e, o mais importante, às vezes se mantem como uma rede pararela de serviços especializados, e não estão integrados a APS, ou mesmo à rede de serviços especializada da biomedicina.

3. Por que as pessoas têm buscado ou buscam os serviços com PICs?

Em uma pesquisa que realizamos com usuários de serviços de Práticas integrativas em Recife a construção partilhada do cuidado, a insatisfação com o cuidado convencional, o acolhimento, a abordagem ampliada e a ausência de muralha entre usuário e profissional apareceram com frequência nas falas dos usuários. Além disso, os efeitos ou as evidências dos resultados para os usuários e profissionais não ficaram reduzidos à nosologia biomédica. Os profissionais da saúde também têm procurado outros modos de cuidado, não apenas para o uso em si mesmo, mas para aplicar no seu trabalho. Muitos, inclusive, buscam formação em PICs de modo individual utilizando recursos próprios. Os nossos estudos têm resultados similares com estudos realizados na França, Inglaterra e Alemanha, ou seja, o modelo biomédico sozinho não atende aos desafios da sociedade, atual e das próximas décadas, como a violência, o sofrimento difuso, o aumento das doenças crônicas e reemergência de doenças infecciosas. Assim, a busca por modelos de cuidado mais integrativos que ampliam a atuação do profissional e do usuário e aumentam a efetividade do cuidado são fundamentais na busca por um bem viver.

4. Quais os avanços e dificuldades quanto ao acesso às PICs?

Temos avançado muito no acesso às PIcs. A PNPIC foi um avanço, e outras atividades que a Coordenação Nacional e muitos municípios têm realizado para facilitar o acesso. Mas, como falei, é muito desigual, o acesso ainda fica restrito a alguns municípios com maior porte populacional. Isto deve-se além do fato de uma política Nacional com recursos financeiros insuficientes, mas também a lacuna na formação. Poucas instituições públicas vem discutindo a inserção de novos modelos de cuidado na formação. Uma desculpa para isso, é “ausência” de evidências cientificas, mas a ciência não tem resposta para tudo, além disso, os modelos propostos em outras racionalidades tais como a homeopatia, ou a medicina tradicional requer outros modos de avaliação que estudos randomizados e controlados são limitados. Há muita disputa no campo das PIcs, não apenas de recursos financeiros, mas em contraponto ao modus operandi do modelo atual. Investir em PICs implica em desviar o olhar da doença para o doente o que remete a uma ação que sai apenas do uso de um medicamento ou exames para estilo de vida, alimentação etc. Por isso, as PICs tem dialogado com a Promoção da Saúde que tem também um olhar mais ampliado sobre o processo de adoecimento.

5. Na sua opinião, como seria a inserção ideal da PICs para contribuir com o cuidado da população?

Tendo em vista o nosso contexto, a grandeza do SUS que tem diferentes realidades e modos de operação e ainda os resultados de pesquisas anteriores. Hoje, eu penso que neste momento, o modelo ideal é inserção via EAF na APS e com apoio matricial. Primeiro, facilitar o acesso com um mínimo de retaguarda via equipe especializada, mas isso não quer dizer que devemos desfazer o que existe. Por exemplo, alguns municípios tem serviços especializados, o desafio é como desenvolver estratégias para que eles dialoguem com a ESF. Além disso, temos que respeitar as construções locais, ou seja, existem várias iniciativas em andamento no que se refere ao escopo de oferta, assim devemos pensar em que medida avançamos na oferta, mas também ampliamos o leque de Pics integrando as experiências exitosas que existem em diversos municípios do país.

Islândia Maria Carvalho de Sousa é doutora e mestre em Saúde Pública (Fiocruz), especialista em Gestão de Sistemas de Saúde e Acupuntura e graduada em Enfermagem. É, ainda, pesquisadora do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Fiocruz/Pernambuco, Coordenadora do grupo de pesquisas Saberes e Práticas em Saúde-Fiocruz-PE e Vice-Lider do Grupo de pesquisa em Economia Politica da Saúde-UFPE.

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Para participar da celebração pelos 10 anos da PNPIC, na primeira semana de maio, durante a Semana Nacional de PICs, clique aqui.

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Autor original: Pree Leonel

Fonte: https://blog.atencaobasica.org.br/2016/04/08/acesso-aos-servicos-com-pics/


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